A conquista de Hugo Calderano na Copa do Mundo de Tênis de Mesa, realizada neste domingo em Macau, marca um momento histórico para o esporte brasileiro. Ao vencer o chinês Lin Shidong – atual líder do ranking mundial – em pleno território chinês, Calderano não apenas superou o maior nome da modalidade atualmente, como também deixou para trás os segundo e terceiro colocados do mundo, igualmente chineses. Essa vitória coloca o Brasil no topo do tênis de mesa mundial e é comparável a grandes feitos do esporte nacional, como os títulos de Gustavo Kuerten em Roland Garros, os saltos de João do Pulo, as medalhas olímpicas de Rebeca Andrade e as vitórias lendárias de Ayrton Senna.
Esse resultado, no entanto, vai além do esforço e talento individuais do atleta carioca. Ele também é fruto de uma política pública implementada há cerca de 20 anos, durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se do Programa Bolsa Atleta, instituído pela Lei nº 10.891, de 9 de julho de 2004, e regulamentado pelo Decreto nº 5.342, de 14 de janeiro de 2005. O programa começou a distribuir bolsas a atletas brasileiros a partir de 2006, oferecendo apoio financeiro contínuo a esportistas de alto rendimento, tanto olímpicos quanto paralímpicos. Calderano, que recebe o benefício desde 2009, é um exemplo de como esse suporte pode fazer a diferença em modalidades com pouca visibilidade e quase nenhum patrocínio, como o tênis de mesa. Nessas condições, sem incentivo do Estado, seria muito difícil competir com nações onde o esporte é prioridade.
A vitória de Calderano repercutiu até na diplomacia. A Embaixada da China no Brasil, por exemplo, parabenizou o atleta publicamente em suas redes sociais, destacando o papel do esporte como ferramenta de aproximação entre os países.
Mais do que celebrar, essa vitória deve servir de reflexão. O Brasil, com sua grande população jovem e vasto território, tem enorme potencial esportivo. Mas para que talentos como Calderano surjam em escala nacional, é essencial ampliar o alcance do Bolsa Atleta e fortalecer políticas públicas voltadas ao esporte nas periferias, nas pequenas cidades e nas escolas públicas. O esporte não é apenas uma fonte de alegria nas vitórias: ele promove saúde, disciplina, cidadania e, para muitos, representa uma chance real de ascensão social. Também é uma poderosa ferramenta de integração em tempos em que os jovens estão cada vez mais imersos nas telas digitais.
Se o país decidir levar o esporte a sério como política de Estado, vitórias como a de Calderano deixarão de ser exceção e passarão a ser rotina. Ele alcançou o topo – agora, é preciso transformar sua trajetória em um caminho possível para milhares de outros jovens brasileiros. Esse é o verdadeiro desafio que temos pela frente.