O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a ser o centro das atenções neste domingo (16), durante um evento realizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. A manifestação transpareceu a idéia de transformar condenados pela Justiça em "inocentes perseguidos". O ato, que pedia anistia para os responsáveis pelos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, foi marcado por revisionismo histórico, críticas ao sistema judiciário e mais discursos populistas carregados de teor conspiratório.
Ao subir no trio elétrico, com a música “Baile de Favela” tocando, Bolsonaro foi saudado por seus apoiadores com gritos de “Mito!”. Em vez de reconhecer a gravidade dos ataques que abalaram o país e atacaram a democracia, o ex-presidente preferiu se colocar como vítima, afirmando que estava vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida por estar, segundo ele, lutando por “pessoas de bem” — os mesmos que participaram da invasão e destruição dos prédios dos Três Poderes. Ignorando as condenações judiciais baseadas em provas robustas, Bolsonaro insistiu que os golpistas não teriam “intenção nem poder para fazer o que estão sendo acusados de fazer”. O ex presidente, mencionou mulheres presas e cidadãos que supostamente deixaram o Brasil por medo, criando uma narrativa de perseguição política, quando, na realidade, o que está em jogo é a aplicação da lei.
Ainda no palco, o ex-presidente aproveitou para celebrar seus 70 anos, se colocando como um mártir de uma cruzada patriótica. “Satisfação e consciência de estar ajudando meu país a sair da escuridão”, declarou, ignorando os escândalos de seu governo, que envolvem desde o recebimento ilegal de joias até a tentativa de descredibilizar o sistema eleitoral — o que o fez perder a elegibilidade.
Ao longo do evento, Bolsonaro voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e a mídia, fazendo insinuações sem fundamento sobre um suposto inquérito secreto que revelaria fraudes nas eleições de 2018. O mesmo Bolsonaro que, por anos, teve a caneta presidencial agora recorre a táticas de cortina de fumaça e desinformação.
Sua retórica continuou com declarações, como afirmar que “o Brasil é a terra prometida”, e ataques pessoais aos membros do governo Lula, incluindo comentários machistas sobre a primeira-dama Janja, comparando-a com sua esposa Michelle. Como parte de um espetáculo, chamou ao trio elétrico a viúva de um dos presos que faleceu na cadeia após ser condenado por envolvimento nos atos golpistas, tentando transformá-lo em mártir.
No final do evento, Bolsonaro fez uma declaração que revela sua visão distorcida sobre a democracia: “Eleições sem Bolsonaro é negar a democracia no Brasil. Se eu sou tão ruim assim, me derrote”. A fala, carregada de ironia e autorreferência, mais uma vez demonstrou sua tentativa de se colocar como o único legítimo representante da vontade popular, sem lembrar que já foi derrotado nas eleições de 2022 por Lula, sendo o primeiro presidente em exercício a perder uma eleição.
O ato contou com a presença de figuras de alto escalão do bolsonarismo, incluindo governadores aliados e seus filhos parlamentares. Tudo isso ocorre no momento em que Bolsonaro foi formalmente denunciado pela Procuradoria-Geral da República por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, mais um episódio de sua longa trajetória de ataques à democracia brasileira.